Hidrelétrica Santo Antônio supera seca histórica no rio Madeira e retoma geração de 2.000 MW. Saiba como inovações garantiram energia ao Acre e Rondônia.
A Hidrelétrica Santo Antônio, localizada no rio Madeira, recuperou sua capacidade operacional após meses de severa seca. Atualmente, a usina gera 2.000 megawatts (MW), marcando uma retomada importante para o sistema elétrico nacional. De acordo com Caio Pompeu de Souza Brasil Neto, presidente da usina, o retorno das chuvas no período úmido foi fundamental para a recuperação. Apesar das dificuldades enfrentadas, as ações implementadas pela usina garantiram o fornecimento de energia para a região Norte durante a crise.
Preparação Antecipada Diante da Seca
A Santo Antônio vinha se preparando desde o início de 2024 para lidar com as condições hidrológicas desfavoráveis, que já prometiam ser mais desafiadoras que as de 2023. No ano anterior, a usina enfrentou sua pior seca histórica, com a necessidade de paralisar completamente suas operações devido às baixas vazões do rio Madeira.
Com base nas lições aprendidas, a usina adotou medidas inovadoras, como a criação de uma “jusante artificial” e um rearranjo estratégico do sistema de transmissão local. Essas ações permitiram que a Santo Antônio continuasse operando mesmo em cenários críticos, além de priorizar o fornecimento de energia aos estados do Acre e Rondônia, que foram severamente impactados pela seca.
Soluções Tecnológicas e Estratégicas
Durante a crise, uma das principais inovações foi concentrar a geração de energia nas turbinas da margem direita do rio. Aproveitando o relevo natural e as características da barragem, a usina conseguiu aumentar a cota jusante do reservatório em dois metros, viabilizando a operação com vazões muito baixas.
“Em um dos grupos geradores da usina, forma-se um remanso devido a um maciço de pedras na frente das máquinas. Ao fecharmos as turbinas da margem esquerda e os vertedouros, concentrando o fluxo na margem direita, criamos um canal que elevou a cota jusante”, explicou Neto.
Além disso, o rearranjo no sistema de transmissão local garantiu maior confiabilidade energética para a região. A energia gerada foi direcionada ao Sistema Regional Acre-Rondônia, fortalecendo o abastecimento desses estados em um momento crítico.
Desempenho Durante a Seca
No ápice da seca, entre setembro e outubro, apenas seis das 50 turbinas da usina estavam em operação. Com uma vazão mínima recorde de 1.987 m³/s, essas turbinas geraram 400 MW médios, representando cerca de 40% da carga elétrica do Acre e Rondônia.
A intensidade da crise também foi evidenciada pela profundidade do rio Madeira, que atingiu apenas 0,19 metros em setembro, a menor marca desde o início das medições em 1967. Mesmo diante desses desafios, a usina conseguiu evitar uma nova paralisação total, demonstrando resiliência e capacidade de adaptação.
Mudanças Climáticas Agravam a Situação
As mudanças climáticas têm desempenhado um papel central na intensificação das condições hidrológicas extremas. Segundo o presidente da Santo Antônio, a usina foi projetada para lidar com a sazonalidade das vazões do rio Madeira, mas a severidade das secas recentes superou todas as expectativas históricas.
Atualmente, o rio Madeira apresenta um nível de 5,62 metros, ainda abaixo da normalidade de 7,00 metros para esta época do ano. Apesar disso, a usina opera com 29 turbinas, com vazões em torno de 10.000 m³/s, aproximadamente 10% abaixo da média histórica para o período.
Perspectivas para o Futuro
Para enfrentar futuros períodos de seca extrema, a Santo Antônio está estudando formas de flexibilizar os limites operacionais das turbinas. Discussões com fornecedores indicaram que é possível operar com segurança em níveis de vazão e quedas mais baixos do que os especificados nos manuais técnicos.
Neto destacou que a usina está preparada para cenários ainda mais adversos. Durante a crise, foi identificado que os limites estabelecidos pelos fornecedores poderiam ser ajustados, permitindo operações em níveis de cota jusante inferiores ao planejado. Essas adaptações podem ser cruciais em futuras crises hídricas.
Compromisso com a Região Norte
A Eletrobras, controladora da Santo Antônio, reforçou o compromisso com a segurança energética no Norte do país. Localizada em Rondônia, a usina desempenha um papel estratégico no fornecimento de energia para a região e no apoio ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
As ações implementadas pela Santo Antônio refletem o compromisso com a inovação e a sustentabilidade, além de destacar a importância de adaptação contínua diante das mudanças climáticas. Com uma capacidade instalada de 3.568 MW, a usina permanece como um dos principais pilares do sistema elétrico brasileiro, garantindo energia para milhões de pessoas, mesmo em condições críticas.