Com o Banco Central indicando uma elevação mais prolongada da Selic, os DIs de longo prazo no Brasil registraram alta. Entenda o impacto do cenário fiscal e dos juros nos EUA sobre a taxa de juros brasileira.
Selic e Curva de Juros no Brasil: Expectativas de Alta Prolongada e Impactos do Cenário Externo
As taxas de juros no Brasil, especialmente nos Depósitos Interfinanceiros (DIs), têm mostrado forte oscilação nos últimos dias, refletindo as projeções do mercado quanto às políticas monetárias do Banco Central (BC) e o cenário externo. O Comitê de Política Monetária (Copom) indicou recentemente que a taxa Selic, atualmente em 11,25% ao ano, pode precisar de um ciclo de alta prolongado para combater a inflação. Este artigo aborda o cenário atual e explica como o contexto fiscal e as taxas de juros nos Estados Unidos impactam o mercado brasileiro.
Perspectiva de Alta Prolongada da Selic
Em sua última ata, o Copom reiterou preocupações com a inflação, que está desancorada e traz desconforto ao Banco Central. Esse desalinhamento nas expectativas inflacionárias pode, segundo o BC, exigir um ciclo mais longo de elevação da Selic, mesmo que a decisão de dezembro deva ser uma alta de apenas 50 pontos-base, como sinalizado. A meta é manter o controle sobre os preços e reduzir a inflação dentro dos patamares definidos pelo governo. Esse aumento na Selic afeta diretamente as expectativas de investidores e se reflete nos contratos de DI, em que a taxa de janeiro de 2025 encerrou a terça-feira em 11,41%, perto da estabilidade, enquanto os contratos de janeiro de 2033 registraram alta de 13 pontos-base, alcançando 12,86%.
Impacto da Política Fiscal no Brasil
Além das decisões do Banco Central, o cenário fiscal brasileiro também exerce grande influência na curva de juros. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um pacote fiscal, ainda sem detalhamento, mas descrito pelo vice-presidente Geraldo Alckmin como “vigoroso”. O mercado espera que essas medidas de controle de gastos públicos tragam uma resposta concreta para conter a inflação e evitar um ciclo ainda mais longo de alta de juros. Para os analistas, um pacote fiscal bem estruturado e confiável poderá ajudar a aliviar a curva de juros, reduzindo a necessidade de novas altas da Selic. Contudo, até que o governo apresente detalhes sobre o plano, o mercado tende a precificar um cenário de juros elevados no Brasil.
Essa expectativa reflete o receio de que a política fiscal desordenada possa pressionar ainda mais a inflação, forçando o BC a estender o ciclo de alta da Selic para combater o aumento dos preços. Esse quadro fiscal é um fator-chave para os contratos mais longos de DI, que refletem as projeções de juros a longo prazo. Em resumo, o mercado espera que o governo entregue um pacote de medidas fiscais robusto, o que poderia ajudar a conter o avanço das taxas de juros de longo prazo.
Influência dos Juros nos EUA e Efeito sobre a Curva de Juros Brasileira
O mercado brasileiro também sente o impacto das taxas de juros dos Estados Unidos, especialmente dos rendimentos dos Treasuries, que são referência global para investimentos. Com o retorno do feriado do Dia dos Veteranos nos EUA, o rendimento do Treasury de dez anos subiu 12 pontos-base, atingindo 4,43%. Essa alta reflete a expectativa de que o presidente eleito Donald Trump implemente políticas fiscais expansionistas, como corte de impostos e aumento de tarifas de importação, que podem elevar a inflação e levar o Federal Reserve a manter os juros americanos elevados.
Quando as taxas de juros nos EUA aumentam, os investidores globais tendem a preferir ativos americanos, considerados mais seguros, reduzindo o interesse por ativos de países emergentes, como o Brasil. Para atrair capital, os títulos brasileiros precisam oferecer uma taxa de juros mais alta, o que contribui para o aumento das taxas dos DIs de longo prazo. Esse movimento, portanto, influencia a curva de juros brasileira, aumentando a expectativa de um ciclo de alta prolongado na Selic.
Curva de Juros Brasileira e Expectativas do Mercado
A possibilidade de um ciclo de alta mais longo para a Selic se reflete diretamente na curva de juros, que se mantém inclinada para cima. Na última terça-feira, as taxas dos contratos de DI de curto prazo, como janeiro de 2025, mostraram estabilidade, enquanto os contratos de prazos mais longos, como janeiro de 2027, registraram alta de 11 pontos-base, chegando a 13,345%. Esse comportamento indica que o mercado está se preparando para um cenário onde o Banco Central manterá os juros elevados por um período mais longo.
Com o impacto do cenário fiscal ainda incerto e os juros nos EUA pressionando os rendimentos dos DIs, o mercado aguarda com cautela a próxima reunião de dezembro do Copom, na qual será discutido o próximo movimento da Selic. Além disso, um pacote fiscal robusto do governo pode ajudar a reduzir o ritmo de alta da Selic, mas o mercado está cético até que as medidas sejam divulgadas.
Expectativas para o Futuro
À medida que o Banco Central trabalha para controlar a inflação, mantendo a Selic em patamares elevados, o governo brasileiro também precisa avançar em suas políticas fiscais. A combinação de um ciclo prolongado de alta na Selic com o impacto dos juros americanos cria um cenário desafiador para o Brasil, com potenciais impactos no crédito, no consumo e no crescimento econômico.
Enquanto as taxas de juros nos Estados Unidos e a política fiscal brasileira continuarem a exercer pressão sobre a curva de juros no Brasil, investidores e consumidores devem se preparar para um cenário de juros elevados, que influencia desde o custo do crédito até as decisões de investimento no mercado de renda fixa.
Assim, tanto o Banco Central quanto o governo federal terão papéis decisivos na configuração do cenário econômico em 2024, e qualquer mudança nesse contexto deve ser acompanhada de perto pelos participantes do mercado. A expectativa é que, em dezembro, o Copom mantenha o aumento de 50 pontos-base, mas a direção futura da Selic dependerá fortemente do avanço da política fiscal e do comportamento dos juros nos EUA.